No dia 9 de junho, comemoramos um dia pouco conhecido, mas muito importante: o Dia Internacional dos Arquivos. Em 9 de junho de 1948, a Unesco criou o Conselho Internacional de Arquivos, então, desde 2007, esse dia foi escolhido para promover a reflexão e o diálogo sobre a importância dos arquivos em nossas vidas.
Os arquivos e os documentos nem sempre estiveram armazenados em pastas em nossos computadores, hospedados em servidores com fácil acesso pela internet ou empilhados em caixas. Mas eles sempre foram utilizados para documentar fatos, provar algo, firmar acordos, divulgar e registrar acontecimentos e, obviamente, sempre foram ferramentas de gestão para o Estado. Isso tudo, com certeza, remonta a muitos séculos antes do nosso uso on-line dos arquivos.
Hoje em dia, quando pensamos na função dos arquivos, devemos considerar que eles não são apenas para os usos já citados. Algo fundamental que os documentos e os arquivos registram são as histórias dos povos. A partir do século XVIII, os arquivos começaram a ser utilizados para estudar as culturas e para compreender o passado destas e se mostram, até hoje, fontes confiáveis. A oralidade e a arte desempenham papéis fundamentais para a compreensão das culturas, mas algumas informações só podem ser encontradas por meio de documentos e arquivos. Por exemplo, como era o funcionamento de instituições públicas e empresas, como aconteciam os negócios e os acordos em cada região. Tudo isso se encontra nesses arquivos. Mas o mais interessante é que não é só a vida pública que pode ser analisada por meio de arquivos e documentos, mas também a vida privada de indivíduos ou grupos sociais.
Dessa forma, é interessante pensarmos em como os arquivos já influenciam a maneira de vivenciarmos nossas próprias vidas. Temos registros desde antes do nosso nascimento. Com formulários e documentos, podemos ter todo o nosso histórico de vida marcado em folhas de papel ou em códigos em computadores. Com os arquivos, podemos descobrir sobre nossos antepassados e, também, conhecer a cultura de nossos povos. Mas é importante lembrarmos que a detenção de certas informações pode pertencer a pessoas ou Estados que não pretendem registrar aquele período, e isso, infelizmente, promove o apagamento de gerações de história, assim como se viu acontecer com o povo da África, que foi escravizado e perdeu todos os seus documentos e registros após os governantes decidirem apagar as provas de uma nação escravocrata. Assim, até mesmo os sobrenomes dos povos negros se perderam e, também, muitas das histórias que esses arquivos poderiam contar para nós.
Como destaca a autora Chimamanda Ngozi Adichie (2009), em “O perigo da história única”, é muito fácil contarmos sempre a mesma história e assumirmos que esta é a única versão dos fatos, mas precisamos lembrar que os arquivos podem ser uma excelente ferramenta para entendermos todos os lados de uma narrativa. Os arquivos nos servem de prova, contam histórias e constroem narrativas e identidades, resgatam memórias e nos ajudam a gerir nossas vidas de uma maneira mais organizada. Por isso, podemos começar a pensar melhor sobre o que faremos com os nossos arquivos, talvez jogá-los fora não seja tão interessante para quem viverá depois da gente. Da mesma forma, podemos encontrar, em todas as caixas cheias de coisas nos nossos pais e avós, histórias incríveis e nunca ouvidas.
Referências
ADICHIE, C. N. O perigo da história única. TEDGlobal, 2009. Disponível em: https://www.ted.com/talks/chimamanda_ngozi_adichie_the_danger_of_a_single_story/transcript?language=pt. Acesso em: 4 jun. 2021.
TOGNOLI, N. B. Por que celebrar o Dia Internacional dos Arquivos? Unespciência, 2016. Disponível em: http://unespciencia.com.br/2016/07/01/arquivologia/. Acesso em: 4 jun. 2021.