Dia do Índio? Como apoiar as lutas indígenas respeitando suas culturas

Na escola, provavelmente, em algum momento, todos nós já ouvimos e comemoramos o “Dia do Índio”. Mas será que ainda é correto utilizar a palavra índio para se referir a uma pessoa que pertence a algum povo indígena? A melhor maneira de saber se o uso de alguma palavra é ofensivo, ou não, para um determinado grupo de pessoas é ouvindo-o sobre o assunto.

Indígena criando um artesanato durante as oficinas ofertadas pela Assindi – Maringá. Fonte: Acervo pessoal da Assindi – Maringá.

Dentre os benefícios que a internet nos proporciona, podemos citar, justamente, a realização de um encontro virtual com pessoas indígenas que estão em suas aldeias, ou não, mas que dividem as experiências e falam da cultura tão rica delas para os ouvintes e os internautas. Assim, muitos indígenas têm contado as experiências deles e defendem que o uso da palavra índio se tornou muito pejorativa, pois coloca centenas de culturas diferentes dentro de um único estereótipo, reforçado, inclusive, nas escolas, em comemorações como a do dia 19 de abril.

Uma das maneiras de problematizar o termo índio e refletir a respeito de como valorizar, conhecer e respeitar a cultura dos povos indígenas é acompanhar essas pessoas nas mídias, ler o que elas escrevem, ouvi-las e valorizar a existência e o trabalho delas. Outro modo é conhecer e apoiar projetos voltados às populações indígenas.

Hoje, queremos apresentar a Assindi, que é a Associação Indigenista de Maringá. Falamos com Driéli Vieira, para tirar algumas dúvidas em relação à atuação da Assindi. Confira:

 

VG Educacional: O que é a Assindi?

Assindi: A Assindi é uma casa de passagem que acolhe os indígenas que vêm à Maringá vender artesanato, evitando, assim, que essas famílias fiquem expostas a situações de risco e vulnerabilidade nas ruas dos municípios que passam. A Assindi atende os indígenas Kaingang da T.i Ivaí, localizada no município de Manoel Ribas.

 

VG: Qual é a maior dificuldade que os indígenas enfrentam quando vêm pra cidade?

A: O preconceito e a discriminação por parte da sociedade, que, por falta de conhecimento, questiona a identidade étnica do grupo e dificulta o acesso deles a serviços disponíveis na cidade.

 

VG: De que modo a Assindi contribui para que a cultura dos indígenas não se perca mesmo quando uma pessoa sai da sua aldeia?

A: Para a antropologia, já está claro que a cultura é passível de transformação tal qual a nossa própria cultura. Então, não trabalhamos com a ideia de perda de cultura, mas, sim, com ressignificação e, também, fortalecimento e valorização da cultura tradicional. Para isso, buscamos associar nossas atividades ao uso de tecnologias, como forma de fortalecer a identidade indígena, por exemplo, gravar as histórias tradicionais indígenas, fazer animações com os desenhos que eles fazem etc.

 

VG: Quantas pessoas vocês já atenderam? Como tem sido, agora, durante a pandemia? Vocês mantêm contato com as aldeias?

A: A Assindi tem 20 anos de existência e, ao longo dos anos, o número de atendimentos foi aumentando. A terra indígena que atendemos tem, aproximadamente, 2 mil pessoas, e, no ano de 2020, realizamos 1799 atendimentos, ou seja, praticamente 100% da comunidade. Durante a pandemia, tivemos que alterar a maneira de ofertar atendimento; assim como muitas organizações, precisamos aderir ao atendimento remoto. Portanto, uma vez ao mês, a equipe técnica da Assendi vai até a terra indígena fazer o repasse de alimentos, produtos de higiene, dentre outras doações, e, também, acompanhar as famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade, as quais já eram assistidas pela equipe, bem como novos casos que nos são informados pela UBS e pela escola da aldeia. Caso necessário, as técnicas (assistente social e psicóloga) fazem os encaminhamentos para a rede de atendimento do município de Manoel Ribas. Durante a pandemia, inclusive, nós fortalecemos o trabalho em rede com o município onde a terra indígena está localizada, a fim de evitar a vinda dos indígenas à Maringá. 

 

VG: Como você acha que o projeto impactou a vida das pessoas indígenas, tanto as que optaram viver na cidade quanto as que voltaram para as aldeias?

A: A Assindi é um afago na vida difícil dessas pessoas; aqui, elas se sentem seguras, seja por terem um local apropriado para permanência ou por receberem as orientações que promovem a garantia de direitos.

 

VG: O que você acha que pessoas não indígenas devem fazer para combater o racismo e discutir assuntos pertinentes aos povos indígenas?

A: Divulgar ao máximo o tema cultura dos povos indígenas, conhecer a realidade dessa sociedade para romper com o senso comum de indígena como o “bom selvagem” que vive da caça e da pesca e perde sua cultura por estar fora da terra indígena. A divulgação da cultura indígena é a melhor alternativa para a superação das situações de preconceito e discriminação.

 

Ficamos muito empolgados ao conhecer essa associação que atua em Maringá há tanto tempo; por isso, quisemos conhecer um pouco mais sobre a Assindi. Olha só esse documentário incrível que eles realizaram, por meio do Prêmio Aniceto Matti (edital 008/2015), produzido com verba de incentivo à cultura – Lei Municipal nº 9160/2012 –, Secretaria Municipal de Cultura (SEMUC) de Maringá-PR. 

Por fim, esperamos que todos nós possamos pesquisar mais, ouvir as pessoas indígenas e conhecer mais sobre as vivências delas, não só por reparação histórica, mas por reconhecer a importância dessas culturas para o que chamamos de cultura brasileira. 

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